Sempre que imaginamos as mudanças tecnológicas que o futuro trará temos um misto de esperança e incerteza. No passado, em especial nas décadas que marcaram o final do século XX, muitos avanços como a ida do homem à lua, a clonagem da ovelha Dolly e até mesmo a popularização da internet, jogaram as expectativas das pessoas às alturas quando se pensava no que viria a seguir.
A atualidade infelizmente não trouxe carros voadores, teletransporte e exploração de novos mundos, pelo menos ainda não. Só que apesar disso, muito se investiu e se concretizou em como tornar a vida humana mais otimizável. Da comunicação ao acesso a informação, celulares, computadores e assistentes virtuais possibilitam um cotidiano mais facilitado e conectado.
Mas e se a tecnologia que já ajuda o ser humano estivesse integrada no próprio ser humano? Não é de hoje que se especula como seriam os humanos do futuro, seres com as capacidades físicas e mentais elevadas ao máximo. Essas previsões, no entanto, existiam só como conceito futurístico ou de ficção científica, mas há quem busque tornar possível que esse conceito se torne realidade.
Vertente do Transhumanismo, o biohacking tem ganhado notoriedade, justamente por seus adeptos serem favoráveis a modificar seus hábitos e até mesmo seu corpo, para aderir a métodos que segundo eles elevariam as capacidades humanas ao máximo. A prática se tornou popular entre frequentadores do Vale do Silício, polo tecnológico americano muito influente no mercado da tecnologia.
Mas afinal, o que vem a ser biohacking e como métodos ligados ao melhoramento do ser humano podem vir a mudar as pessoas do futuro? Para responder a isso, este texto trará algumas explicações sobre essa prática e que possibilidades e riscos ela traz para o desenvolvimento da tecnologia voltada à saúde. Aproveite a leitura!
O que é biohacking?
Embora o termo possua amplo significado e não tenha ainda uma tradução apropriada para o português, Biohacking ou DIY Biology consiste em realizar modificações na biologia do ser humano com o objetivo de ganhar desempenho mental e físico para concretizar resultados com o mínimo de esforço e tempo.
Essas modificações podem ser práticas naturais aplicadas ao indivíduo ou ao ambiente, suplementos e medicamentos como os nootrópicos e até mesmo intervenções cirúrgicas como o implante de chips e dispositivos eletrônicos no próprio corpo. Tudo isso para superar características que a limitação humana possui de maneira intrínseca, como envelhecer, por exemplo.
Esses procedimentos apesar de possuírem cunho médico em alguns casos, em especial no se refere ao tratamento de doenças, limitações motoras e deficiências inatas, estão se tornando estilo de vida para adeptos que buscam por meio do biohacking transcender o que é considerado humano e atingir uma condição superior em desempenho.
O biohacking considerado natural ou não interventivo, trabalha com o objetivo de fortalecer o corpo ao máximo. Os praticantes realizam no seu cotidiano práticas como jejum intermitente, meditação, treinos de resistência e alta intensidade bem como exposição ao frio. Com isso eles objetivam controlar seu corpo para garantir que o metabolismo os ajude a realizar atividades com o máximo resultado, manipulando a energia e o ambiente ao seu propósito.
Também são usados acessórios como óculos inibidores de luz artificial para controlar os níveis de melatonina, suplementos para a alimentação e rotinas de refeições escassas. Obtendo por meio disso, segundos os praticantes, mais foco e concentração durante o dia, longevidade a longo prazo e bem-estar físico e emocional.
Já procedimentos como a implantação de microchips, métodos anti envelhecimento
e dispositivos que funcionam dentro do corpo de seres humanos, já são considerados transhumanismo prático ou abordagem interventiva, possuindo entusiastas por todo o mundo e alguns casos de pessoas que ativamente convivem com tecnologia em sua biologia.
Seja por necessidade como o caso do baterista amputado Jason Barnes que utiliza uma prótese mecânica inteligente para tocar bateria, ou os entusiastas do projeto neuralink do bilionário Elon Musk que visa permitir que pessoas com mobilidade reduzida controlem o corpo a partir de chips implantados no cérebro.
Também há quem busque alterações por propósitos mais mundanos como abrir portas e desbloquear gadgets. Aplicações mais severas e controversas também já são uma realidade, como é o caso de um grupo de “biohackers” que realizaram a aplicação de uma substância dentro dos globos oculares de cobaias, permitindo que essas pessoas conseguissem enxergar no escuro como se fosse luz natural.
Práticas como essas têm gerado repercussão por tratar de questões éticas e sociais a respeito de quais limites o ser humano deve ter. A maioria das pessoas está satisfeita com vidas normais conectadas a tecnologia mais acessível. Infelizmente grande parte dessa gente sequer compreende o quão imersos já estamos nesse mundo globalizado pela rede e o quanto tudo que realizamos já produz dados que buscam nos manter ainda mais conectados.
O recente anúncio do criador do Facebook, Mark Zuckerberg sobre o metaverso, fez as pessoas questionarem se realmente as redes sociais deveriam suprir totalmente o contato pessoal entre os seres humanos. A tecnologia do biohacking faz o mesmo, porém evidencia uma questão ainda mais importante, que é o que de fato define um ser humano?
A desumanização ou aprimoramento, como preferir, tornaria a nossa biologia naturalmente humana, uma mecanização tecnológica. Até onde controlar como nos relacionamos com a tecnologia vale a pena? Quais impactos a tecnologia terá na sociedade nos próximos cinquenta anos? Tudo é suposição, mas a idealização que temos já nos dá alguma luz a respeito.
O best seller “Homodeus” do autor israelense Yuri Noah Harari, traz algumas indicações preocupantes. Segundo ele, a desumanização se dará ao ponto de algoritmos controlarem as nossas escolhas como pessoas, tornando a percepção do que é realmente um indivíduo, um conceito meramente abstrato.
O biohacking em nível genético, controle de doenças e do envelhecimento como um todo podem parecer promissores, mas uma vez que se torne acessível para fins civis e não médicos podem ser utilizados para fins pessoais e nem sempre éticos.
Saber se tudo isso se dará como o imaginado só o futuro poderá dizer. Até lá, muita discussão e inovação a respeito do biohacking vai acontecer e talvez normas e legislações possam nortear como o uso da tecnologia para o aprimoramento humano será na prática. O que sabemos atualmente é que o biohacking já é uma realidade e para o bem ou para o mal seus efeitos já podem ser percebidos.
Se este artigo foi útil, considere deixar sua opinião sobre ele nos comentários do post. Compartilhá-lo com quem se interesse sobre o tema também é bastante válido para ajudar a fomentar a relevância de mais conteúdos como este.