A dependência química é um grande problema de saúde pública. No ano de 2021 os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), apresentaram registro de 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais em decorrência do uso de álcool e drogas. Um aumento significativo de 12% em relação ao ano anterior.
O impacto social disso, no entanto, é muito maior, tendo em vista que a dependência química envolve o desenvolvimento de comportamentos impulsivos. E que esses em decorrência do vício, afetam a vida pessoal e coletiva dessas pessoas. Além, é claro, de seus círculos familiares, profissionais e sociais no geral.
E uma vez que o consumo se torne vício, e portanto, dependência, o isolamento do dependente químico passa a ocorrer, até que o indivíduo viva em função de sua adicção. Somados a isso estão o preconceito e os estigmas que corroboram para piorar ainda mais o quadro mental do adicto.
Para prevenir que as consequências se tornem irreversíveis, é fundamental procurar a reabilitação. E a depender do grau atingido pela dependência do indivíduo, medidas severas precisam ser tomadas para garantir que o mesmo não coloque em risco a própria vida. Aí então surge a importância de acionar o procedimento indicado.
Reconhecer o vício é o primeiro passo. Seja pelo consumo de drogas lícitas ou ilícitas, é importante que o adicto, ou alguém próximo a ele, como um amigo, cônjuge ou familiar, perceba que há a necessidade de procurar ajuda. Uma vez que se busque informação a respeito de dependência química, decisões devem ser tomadas para combater o problema.
Conceito, tipos e sintomas de dependência química
Primeiramente, é importante entender que a dependência química diz respeito à relação de como uma pessoa consome determinada substância. A partir do momento que o indivíduo para a depender desse consumo em seu cotidiano e isso para a gerar degradação em sua vida tem se o quadro de dependência.
Os tipos de dependência química vão depender das substâncias, podendo ser uma ou mais, em que o consumo está relacionado ao vício.
Os principais tipos de substâncias são:
- Drogas Lícitas (álcool, tabaco)
- Drogas Ilícitas (cocaína, crack, maconha, anfetaminas, heroína, LSD, ecstasy e etc.)
- Medicamentos (ansiolíticos, anticolinérgicos e etc.)
- Repositores Hormonais (esteróides e anabolizantes)
O consumo dessas substâncias produzem sintomas que provocam mudanças no comportamento e nas atitudes de quem faz uso, e quando usadas ao nível da dependência, podem alterar por completo a forma como o indivíduo vivia sua vida quando estava sóbrio.
É esse tipo de conduta que, se não tratada, virá a comprometer as relações do dependente com seus familiares, amigos e demais círculos sociais. Também podendo causar patologias correlatas resultantes do vício como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e demais outras doenças e transtornos mentais e físicos.
É por esta razão que os principais sintomas da dependência química se assemelham aos de outros transtornos. Variando apenas na forma como se desenvolveram, normalmente se dando no curso de um ser resultante do outro. Ainda assim, esses sintomas podem ser fatores que indicarão a presença da dependência. Sendo úteis para apontar a necessidade da busca por tratamento do vício.
Os principais sintomas da dependência química são:
- Ansiedade
- Alucinações
- Depressão
- Irritabilidade
- Paranóia
- Perda do Apetite
- Pupilas Dilatadas
- Respiração Acelerada
Tratamento: Desintoxicação, psicoterapia, e crise de abstinência
O tratamento para a dependência química deve ser clínico, ou seja, realizado apenas sob a supervisão de um profissional, de preferência em uma rede especializada, com suporte médico e psicoterápico. Somente um tratamento bem executado culminará na completa reabilitação do vício.
O procedimento a ser realizado virá a depender do grau de dependência. O psiquiatra será o responsável por indicar o nível da intervenção a ser feita. Uma vez analisados, paciente, histórico familiar, tempo de vício e alguns outros fatores, o profissional médico determinará o tipo de tratamento e sua intensidade.
A seguir, teremos alguns tópicos importantes no tratamento de dependentes químicos.
Desintoxicação
A desintoxicação é o processo prático do início de todo e qualquer tratamento em dependência química. Pelo histórico de uso da substância, o corpo reagirá de forma abrupta, uma vez que seu consumo seja interrompido.
Por isso, na desintoxicação o indivíduo é submetido a uma gradativa redução da quantidade que seu corpo absorverá da substância dependente. Isso possibilitará uma melhor adaptabilidade ao tratamento até que a fisiologia do corpo se habitue à ausência da substância.
Dependendo do grau de adicção e do tipo da substância em uso, o processo de desintoxicação do organismo pode levar de 90 a 180 dias. A execução correta do procedimento com auxílio da psicoterapia e das consultas de avaliação médica determinarão a eficácia do tratamento.
Psicoterapia
O acompanhamento terapêutico é essencial para o sucesso no tratamento da dependência química. O psicólogo agirá por meio de consultas na abordagem cognitiva do processo. Assim, analisando o estado mental do paciente e inclusive de seus familiares, uma vez que eles também devem realizar terapia.
O tratamento terapêutico pode ajudar a conciliar problemas surgidos durante o tempo de decorrência do vício, tratando o mental familiar do dependente, bem como ele próprio, através de intervenções nos pensamentos, crenças e emoções ligados ao vício que está em tratamento.
O equilíbrio cognitivo e emocional durante o tempo prescrito irá monitorar a efetividade do processo servindo de base para garantir a saúde mental dos envolvidos.
Um dos métodos que podem ser utilizados pelo psicólogo é a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), por se tratar de uma abordagem terapêutica mais direta, focada em metas determinadas por médico e paciente. Trabalhando portanto, uma mudança de crenças equivocadas que o dependente nutria acerca do vício.
Crise de Abstinência
As crises de abstinência são reações físicas decorridas do processo de desintoxicação, onde existe a presença de sintomas relacionados a falta da substância geradora do vício, uma vez que o cérebro está acostumado aos seus efeitos.
Os sintomas da crise de abstinência podem causar desconforto de natureza psíquica e física variando de intensidade conforme a quantidade normalmente administrada da substância. Logo, quanto maior o consumo, maior serão os efeitos da crise.
Essas reações são as grandes responsáveis pela descontinuação de períodos de abstinência, onde o dependente recorre ao vício não pelos efeitos proporcionados, mas para suprir os níveis da substância no seu corpo e desta forma não sentir os efeitos da crise de abstinência.
Por isso o tratamento através da desintoxicação, promove o gradual abandono da substância dependente, adaptando o indivíduo a pouco a pouco acostumar-se com a abstinência. Dessa forma, as crises serão menos severas e todo o processo poderá ser feito de forma mais natural.
Junto a psicoterapia, o médico psiquiatra que acompanha o tratamento também pode prescrever medicamentos para amenizar os efeitos da crise de abstinência. Essa medicação vai depender do tipo da substância mas pode ser auxiliada por alternativas naturais, atividades recreativas e grupos de terapia sobre o vício.
Tratamento Ambulatorial ou Internação?
Como toda doença, o tratamento da dependência química vai depender do grau que essa adicção alcançou. Para casos mais leves e moderados, em que o indivíduo ainda tem controle sobre suas atitudes e responsabilidades, o tratamento ambulatorial é uma excelente opção, uma vez que ele não engloba o internamento. Assim permitindo que o paciente tenha sua rotina normalmente e ainda se trate.
Ela envolve todo o suporte necessário ao tratamento, como consulta psiquiátrica, medicação e atendimento psicológico, tendo como diferencial que o próprio paciente vem até a clínica, hospital ou centro de tratamento e logo após seu término no fim do dia, ele retorna a sua residência, podendo trabalhar e realizar outras atividades enquanto realiza o tratamento.
Quando é o caso do paciente já não possuir discernimento por suas atitudes, vivendo totalmente em função do vício e sendo risco para si próprio e para seus familiares, a internação é necessária. Podendo ser realizada de forma voluntária pelo próprio indivíduo, ou por um parente responsável que se prontifique a intervir. Também em casos mais críticos através de liminar judicial a partir de uma solicitação médica.
Somente através da internação o dependente químico grave poderá fazer evoluções em seu quadro. Num ambiente preparado para mantê-lo fisicamente longe das substâncias viciosas, com equipe de prontidão para eventuais intervenções médicas geradas pela abstinência, o adicto poderá se desintoxicar e realizar consultas regulares pelo período que estiver internado.
Importância do tratamento humanizado e apoio familiar
Tanto sofrer de dependência química quanto estar próximo de alguém que sofre são grandes desafios. Todo o estigma do vício e o sofrimento gerado por ele, contribuem para que o dependente pense duas vezes antes de procurar ajuda para sua adicção. Superar a dependência não é tarefa fácil, e precisa de um suporte encorajador para obter êxito.
Daí a importância do atendimento humanizado, que nada mais é que um tratamento íntegro, conciliando técnica aplicada e relacionamento médico com pacientes e familiares. O processo é amplo porque auxilia o paciente promovendo o apoio de sua família ao tratamento, além de cuidar da saúde mental dos parentes, que por conta da dependência de seu ente querido, estarão precisando de assistência psicológica.
O apoio familiar é a base para vencer a dependência química, sendo fundamental para o paciente, desde o momento de compreender o problema do vício, até após o fim do tratamento, que é quando começa a batalha pela sobriedade. Por isso, antes de julgar e fazer reprovações, o papel dos parentes e amigos é ser empático e acolhedor.
Essencialmente, compreender o poder destrutivo de um vício significa temê-lo, e quando o dependente percebe o problema que possui, passa a temer julgamentos e críticas, principalmente daqueles que ele mais ama. Enfrentar ou tentar controlar o adicto, só pode gerar mais conflito e dependência por parte dele, o que vai na contramão da reabilitação.
Debater temas ligados à dependências e saúde mental no geral, estimulam e fomentam a importância deles como grandes problemas que a nossa sociedade precisa tratar. Compartilhar informação acerca disso é mais do que nutrir uma força do bem em prol de uma causa importante, pode ajudar a salvar vidas.
Por isso, se gostou desse artigo considere enviá-lo a alguém a quem ele possa ser útil. Combater a dependência é o primeiro passo para se ver livre dela. O efeito disso é gente dizendo sim a própria vida, em especial uma vida mais feliz e livre de vícios.